Desalojados deixam escola e invadem terreno da União em Navegantes


Um terreno pertencente à União, localizado no bairro Meia Praia e não muito longe de onde viviam até janeiro, é o novo endereço de cerca de 30 famílias que estavam alojadas na Escola Professora Rosa Maria Xavier de Araújo, em Navegantes. O grupo, que chegou a ser formado mais de 300 pessoas, deixou o colégio no sábado, antes da ação de reintegração de posse que estava programada pela prefeitura para a manhã de segunda-feira.

 A movimentação começou ainda na madrugada. Por volta das 3h, muitos já estavam retirando os pertences que tinham conseguido levar para a escola. Durante todo o dia trabalharam organizando a área, montaram uma tenda para servir de banheiro, dividiram o antigo galpão onde antes ficava a Embratel em cômodos.

 Em alguns, oito, dez camas estavam montadas. Em outros, uma cozinha improvisada ia aos poucos tomando forma. As expressões eram de cansaço, fome, desalento. Valdemir Ferreira Lima, que representa o grupo, acredita que a moradia é provisória e espera que a prefeitura os ajude. — Esse é o único lugar que está mais adequado para nós, tem pelo menos uma estrutura de concreto. Vamos tentar ligar água e a energia. A gente não quer invadir nada de ninguém, só queremos uma solução para o nosso problema. 

Os que estão aqui são os que não têm condições mesmo, os que tinham saíram da escola e foram para a casa parentes ou alugaram algo — explica. Com o semblante cansado, o pedreiro Renato Ederson, 34, estava sentado numa cama fazendo planos: — Eu vou ficar aqui com o pessoal, estou trabalhando e tentando juntar dinheiro caso não dê certo. Não tenho nada para chamar de meu, não tenho para onde ir. 

Como eu vou ter alguma coisa minha se o aluguel já iria me consumir todo o dinheiro que ganho? Era por volta de 16h e uma mulher preparava um pão e café — que seria a primeira refeição das famílias no dia. Do outro lado, Antonia Maria, 38 anos, se despedia dos moradores em lágrimas enquanto o marido levava malas e desmontava sua cama no acampamento. Ela conta que, naquele dia, tinham conseguido um quarto para alugar. — Viemos para o acampamento, mas como sou doente, estamos de saída. 

Meu marido conseguiu alugar um quartinho. Eu gostaria de poder ficar, estamos juntos nessa caminhada com o pessoal atrás de uma moradia digna. Parte de mim vai ficar aqui, o sentimento é como estar de coração partido. Notificação ao governo Segundo o secretário de Articulação Política de Navegantes, Arilson Luis Moraes, a prefeitura vai notificar a invasão ao governo federal, que é proprietário da área. Para ele, a partir da saída da escola, não é mais responsabilidade do município intermediar a situação. 

 — Nós já fizemos tudo o que estava ao alcance da prefeitura. Agora não cabe mais ao município resolver a situação deles — afirma. Moraes explica que ficou sabendo da nova invasão ainda na manhã de sábado, quando esteve na escola acompanhado por assistentes sociais para conversar com os moradores. De acordo com ele, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram comunicados em seguida. 

 — Estamos acompanhando qualquer nova área de invasão, esta é uma questão que preocupa a prefeitura. Mas o terreno é da União, e a única coisa que podemos fazer é avisar o governo federal sobre o caso. 


 Texto: http://osoldiario.clicrbs.com.br/

Comentários